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Postado em 29/01/2023 13:45 - Edição: Bruno Wisniewski

Por Núcleo Transcentrado da Comissão de Direitos Humanos do CRP-PR

Janeiro é um mês com alta relevância para a Psicologia brasileira, pois simboliza a importância de se cuidar da saúde mental, motivo pelo qual trabalhamos e atuamos. E, mais recentemente, esse mês anda de mãos dadas com a diversidade de gênero, celebrando a Visibilidade Trans. De mãos dadas, sim, pois não são pautas antagônicas, nem uma é mais importante que a outra: são pautas irmãs, fortes em conjunto e necessárias de forma unida.

No Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), tornou-se lugar comum falar exclusivamente sobre mortes e violência. Esse é um mês que resume estatisticamente todas as perdas do ano, todas as mortes violentas de pessoas trans, especialmente daquelas das pretas e indígenas, mostrando como transfobia e racismo andam, infelizmente, juntos. Ainda se faz necessário apontar esta realidade, especialmente para a categoria da Psicologia, pois sabemos que viver em meio à violência, ao preconceito e à sistemas de opressão é extremamente prejudicial para a saúde mental, levando para as altas taxas de depressão, ansiedade (TAG), estresse pós-traumático (TEPT) e suicídio nessa população.

Completamos, em 2023, cinco anos desde o lançamento da Resolução CFP nº 01/2018, que dispõe sobre os atendimentos à população trans. O texto, em suma, reafirma o compromisso ético e social do Sistema Conselhos no respeito aos direitos humanos, com a luta por uma sociedade mais inclusiva e democrática e orientações para que profissionais da classe assim atuem. Vale sempre lembrar os seguintes Princípios Fundamentais:

I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.

Neste ponto, a Psicologia brasileira ainda mostrou um outro lado da moeda, por muitas vezes ainda esquecido: a própria categoria profissional. Muito se debate no meio de nossa profissão sobre a importância do “cuidar de quem cuida”, sobre a manutenção da saúde mental de profissionais da Psicologia.

Mas, por muito tempo, questionamos: de que profissional falamos? Quais as suas especificidades, necessidades básicas que precisam ser observadas?

Para responder a esta pergunta, basta voltarmos a atenção para a nossa sociedade: plural, diversa e muito distante de uma norma fictícia digna de elenco hollywoodiano de 1970. Profissionais estão neste meio social, ao contrário de uma percepção que, por décadas, permeou e permeia a área da saúde, separando profissionais do meio social, como se fossem quase uma espécie à parte.

Por sermos tão parte do social como qualquer outro indivíduo humano, no mesmo ano de 2018 foi lançada a Resolução CFP nº 10/2018, que garante um direito básico: o uso do nome social em nossa carteira profissional. Tal conquista, mesmo que tardia, deve ser celebrada e defendida por nossa categoria.

Como profissionais, lembremos sempre que não lutamos exclusivamente em causa própria, mas por nossa categoria e pela população brasileira.

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A mais nova conquista é a formação inédita do Núcleo Transcentrado da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), que tem como um de seus objetivos enfatizar o respeito e responsabilidade que cada profissional deve ter no atendimento às populações que saem da normativa de gênero vigente. Uma forma de luta, mas também de celebração, pelas conquistas que a população e a categoria tiveram com um viés mais inclusivo de acordo na prática, e não apenas na teoria, com a Cartilha de Direitos Humanos.

Decidimos, portanto, não só pedir respeito pelos nossos mortos. Queremos destacar que ser uma pessoa trans também envolve potencialidades. Nem tudo é morte, por mais que seja este o ponto mais noticiado. Mas, quando é morte, não necessariamente é a morte literal, carnal. Uma vivência trans celebra a morte de estigmas, de crenças negativas, de conservadorismo moral baseado naquilo que é interessante para apenas uma parcela da população. Nós também somos potentes e não andamos só. E, dessa vez, estamos compondo os Conselhos ao redor do Brasil.

Atuamos na saúde, educação, ciências econômicas, tecnologias, cultura. Escrevemos livros, produzimos artes, lutamos por direitos comuns, pensamos e vivemos afetos. Continuamente resistimos, existimos e atuamos.

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Também de forma inédita, o CRP-PR apresenta em seu quadro técnico uma pessoa trans. Pela primeira vez, temos no corpo de conselheiras(os/es) uma pessoa transmasculina e uma pessoa não binária. É a primeira vez que temos um Núcleo Transcentrado que se propõe a dialogar sobre as pautas trans com a categoria, juntando forças com outros Núcleos e Comissões.

Estes pontos são um lembrete para a urgente morte de um sistema excludente, uma celebração da vida e das possibilidades infinitas, mas também um chamado nos lembrando de que a caminhada e a luta continuam. Como profissionais, lembremos sempre que não lutamos exclusivamente em causa própria, mas por nossa categoria e pela população brasileira. Não nos contentamos com o básico, mesmo que celebrando cada degrau subido.

Somos muites. Atuamos na saúde, educação, ciências econômicas, tecnologias, cultura. Vamos além de locais pré-determinados socialmente para estarmos, invisibilizades ou aniquilades. Escrevemos livros, produzimos artes, lutamos por direitos comuns, pensamos e vivemos afetos. Continuamente resistimos, existimos e atuamos. Seguimos vivendo.

Quer saber mais?

  • Livros
    • Pajubá-terapia: ensaios sobre a cisnorma || Sofia Favero || Nemesis Editora
    • Transfeminismo: teorias e práticas || Organizado por Jaqueline Gomes de Jesus || Metanoia Editora
    • Velhice Transviada || João Nery || Objetiva Editora
    • Nós, trans: escrevivências de resistência || Grupo Transcritas Coletivas
  • Documentário
    • Revelação || 2020 || Laverne Cox || Disponível na Netflix
  • Evento
    • Mesa-redonda: Encruzilhadas da Psicologia intersccional transvestigênere || 2023 || CRP-PR || Disponível online

Ref.: http://crppr.org.br/